As Paradas do orgulho LGBT tiveram origem nas lutas por direitos e foram momentos privilegiados para denunciar a opressão e exigir políticas de combate a LGBTfobia. Infelizmente, nos últimos anos, este dia de luta mundial foi sendo cooptado pelo mercado através do patrocínio de multinacionais, do monopólio dos carros de som pelas empresas e boates que faturam milhões com o consumo de LGBTs e de governos oportunistas, o que tem gerado um processo de total despolitização do evento. Esse tipo de Parada reflete a visão de grande parte da direção do movimento atual, de que nossa luta deve ser por “aceitação” enquanto “cidadãos normais”, que devem ter seus direitos garantidos, principalmente enquanto consumidores, uma espécie de cidadania de consumo. Nós do PSTU entendemos que esta mudança de perspectiva é um grave erro, pois as Paradas do Orgulho LGBT, do modo que são organizadas na atualidade, nada tem a ver com a realidade dos milhares de LGBTs que estão nos bairros e escolas da periferia, no interior das fábricas e tampouco tem a ver com a origem das paradas e o espírito de luta de Stonewall. Infelizmente, por falta de direção política, os milhares que frequentam esse “dia de glória” retornam para suas casas, locais de estudo, trabalho e moradia para continuarem sofrendo a LGBTfobia e a super exploração.
A Edição da Parada LGBT 2015
expressa muito dessa despolitização, a começar pelo tema, “Eu nasci assim, eu
cresci assim, vou ser sempre assim: me respeitem”. O tema não denuncia a
violência sofrida cotidianamente contra LGBTs. O Brasil segue sendo o campeão
mundial de assassinatos de LGBTs. Na “pátria educadora”, um LGBT é brutalmente
assassinado a cada 26 horas, superando índices de países onde a homossexualidade é
crime. A resposta do governo para esta questão foi o arquivamento da PLC
122/06, projeto de lei que criminaliza a homofobia. Além de não fazer a
denúncia, não faz exigência aos governos para que cumpram suas promessas de
campanha e criminalizem a LGBTfobia. Fora isso, esse tema é também desconectado
dos estudos de gênero, os quais apontam o fato de que ninguém nasce homem ou
mulher, mas torna-se, uma vez que gênero é construção social e não condição
“natural” de vida.
A opressão vivenciada
diariamente por LGBTs não para por aí. Continuamos excluídos de direitos
básicos como Educação, Saúde, Moradia, Lazer e Trabalho. Índices revelam que
nós somos um dos setores da classe trabalhadora mais precarizados, somos
maioria nos serviços de telemarketing, no mercado informal e também na
prostituição. Neste sentido, as MPs 664 e 665 de Dilma PT, que reduzem direitos
trabalhistas como seguro desemprego, seguro por morte e auxílio doença, afetam
com mais força os setores oprimidos como mulheres, negros, negras e LGBTs. Está
em curso a aprovação da PL 4330, das terceirizações, que se aprovada, vai
rasgar de vez a CLT e legitimar, por lei, a precarização nos contratos de
trabalho. Todas essas questões foram ignoradas pelos organizadores da Parada
LGBT 2015 de São Paulo. O que deu o tom de protesto e abriu ampla discussão sobre
violência e discriminação foi a performance de Viviany Beleboni, a travesti que
desfilou “crucificada” no evento. Ela se prendeu à cruz, encenando o sofrimento
de Jesus, para “representar a agressão e a dor que a comunidade LGBT tem
passado”, declarou a atriz ao G1. "Nunca tive a intenção de atacar a
igreja. A ideia era, mesmo, protestar contra a homofobia", explicou ainda
ao portal.
A representação da
crucificação não é original, outros atores, atrizes e mesmo jogadores de
futebol já o fizeram antes de Viviany e nenhuma dessas representações causou
reações como foi no caso da travesti. Esse fato desnuda mais uma das faces da
transfobia, revela que o preconceito e a discriminação é de fato muito forte na
sociedade. Uma representação artística “choca” mais que os altíssimos índices
de mortes brutais de LGBTs, choca mais que a total discriminação e negação de
direitos a este setor.
Nós do PSTU entendemos a
arte não como uma mercadoria, mas livre expressão da criatividade. Defendemos
total liberdade a arte, assim como a total liberdade de crítica de arte. Somos
contrários a utilização de símbolos religiosos em protestos ou em atos.
Compreendemos que esta tática não dialoga com a fé de muitas pessoas. Somos defensoras(es) aguerridos da total liberdade religiosa e lutamos bravamente contra qualquer tipo de intolerância. No
entanto, não entendemos a encenação de Viviany como provocação ou desrespeito
com símbolos sacros, mas um ato de coragem e uma forma artística e criativa de
fazer protesto e chamar a atenção para a realidade de milhares de LGBTs que
sofrem todo o tipo de discriminação em seus locais de trabalho, estudo e
moradia.
Queremos nos somar a Viviany
e a todas(os) que se levantam contra a LGBTfobia. O protesto de Viviany foi
ousado, como é próprio da arte. A atriz afirmou ao G1 que vê a parada “como um
protesto, não como uma festa. Usei as marcas de Jesus, que foi humilhado,
agredido e morto. Justamente o que tem acontecido com muita gente no meio GLS,
mas com isso ninguém se choca.” Assim também compreendemos a Parada, como um
ato de protesto e de luta por direitos.
É preciso unir todas as lutas, contra todas as formas de exploração e opressão.
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